Com o prémio do Conto Camilo Castelo Branco para "Os da Minha Rua" (2007) e o Prémio Saramago para "Os Transparentes" (2012), conta ainda com vários livros no Plano Nacional de Leitura. Aos 37 anos, Ondjaki é um autor produtivo com contos, romances, poesia e livros infantis publicados. Há cinco anos no Brasil, continua a visitar Luanda, terra natal e imaginário literário que o acompanha. Numa manhã de sol, "Uma Escuridão Bonita" é o ponto de partida para uma conversa pausada, sobre o vício das histórias e outras compulsões.
Neste último livro diz que "quando somos crianças o mundo fica bonito de repente".
Há uma capacidade no olhar infantil em ver muitas vezes o mundo como um lugar bonito. E ao longo do tempo e com a idade acho que nos vamos afastando dessa capacidade. Guimarães Rosa tinha uma frase muito bonita: "Quando nada acontece no mundo há um milagre que não estamos vendo."
Como surge esta história?
A primeira vez que a escrevi foi em Setembro de 2004 - já estava há muito tempo comigo e em maturação. Às vezes acontece, as histórias ficarem muito tempo até serem publicadas.
A Avó Dezanove é um dos personagens, que é emprestada de outro livro.
Há um cruzamento, sim. A Avó Dezanove às vezes aparece, com maior ou menor destaque. Digamos que aponta para esse puzzle de personagens desse bairro que é a Praia do Bispo. Esta avó é baseada numa avó que existe, a minha, e que de facto tem 19 dedos.
É uma alcunha usada em família?
Chamamos-lhe esse nome a brincar, mas temos outros nomes de carinho, não é o principal. Agora, depois dos livros, por brincadeira, já é mais comum alguém lhe chamar avó Dezanove.
É importante para si ter um grupo de personagens fixo a que recorrer?
Isto trata-se dos universos. Quando estou a escrever sobre esse grande universo a que chamo de anos 80, então há personagens que podem ou não ser invocados, depende muito da ambiência. Os personagens dos anos 80 não têm nada que ver com os de "Os Transparentes" ou de livros de uma Luanda mais recente
fonte: Jornal i