|
Equador, de Miguel Sousa Tavares - um fenómeno literário à portuguesa

Romance histórico na definição mais clássica do gênero — pela presença de cor local, de personagens referenciais de primeiro plano, pela evocação fiel de um tempo.
Como protagonista, Sousa Tavares escolhe a figura de Luís Bernardo Valença (já citado). Este é descrito no começo da romance, no ano de 1905, através de um narrador onisciente como um homem de 37 anos, que trabalha no escritório de uma companhia de navios em Lisboa que lhe foi herdada pelo pai e que de vez em quando tem um relacionamento amoroso. Além de ser sócio de um clube, onde na maioria das vezes se defendem opiniões pragmáticas - e que ele chamou atenção ultimamente através de dois artigos no jornal "Mundo" e uma pequena publicação acerca da questão colonial.
Nos seus dois artigos, Luís Bernardo exigia uma política colonial moderna que fosse efetiva para o comércio e a economia, e também mostrava uma pretensão civilizacional. Assim o narrador onisciente resume o conteúdo das obras do protagonista.
O estilo jornalístico, altamente eficaz, reforçado por um visualismo muito forte, a que não são também alheios outros elementos sensoriais (sobretudo quando se fala de paisagens distantes, como é o caso da são tomense, aqui quase personificada e elevada à categoria de personagem) e também sensuais (ligados quer à Natureza africana, quer às mulheres que povoam a narrativa e pontuam o percurso do protagonista), permite ao leitor acompanhar, de forma muito próxima e expectante, as deambulações das personagens por meio mundo, nos primeiros anos do século XX.
|
|